Prometi aos meus amigos voltar ao assunto da viagem de moto ao Chile, particularmente em um episódio especial: a passagem por Chaitén.
Após dormirmos em Bariloche, rumamos sul até Trevelin, atravessando o Parque Nacional Los Alerces, passagem alternativa para quem quer chegar ao sul do Chile. Tínhamos um plano de rota já pré-estabelecido há meses, e o objetivo era chegar até Chaiten em tempo hábil para comprarmos as passagens do ferryboat que nos levaria até Puerto Montt no dia seguinte.Eu, deslumbrado com a beleza do vale entre os picos nevados da Cordilheira dos Andes, parava a cada cinco minutos para fotografar alguma coisa.Cada foto era uma operação de guerra. Por medo de cair e danificar a câmera se a carregasse no corpo (e o corpo se caísse com a câmera), tinha que parar, desligar a moto,descer, tirar a chave, abrir o baú, tirar a câmera, tirar a foto, apertar a câmera de novo no baú ( por algum motivo eu dispensei os baús laterais que seriam a solução), trancar, montar de novo, ligar e andar até a próxima foto imperdível, que normalmente estava logo depois da próxima curva. Então começava tudo de novo.
Meus companheiros de estrada eram a diversidade em pessoa: O Fernando, organizadíssimo, ficava louco a cada parada e sempre saía na frente para abrir caminho e achar as vias corretas. O Eduardo, com pouca experiência em duas rodas, enfrentava um desafio de sobrevivência em cima do terreno de rípio com pedras do tamanho de bolas de tênis (ocasionalmente entremeadas com bolas de boliche).
Após cruzarmos o parque, chamou a atenção o baixo número de automóveis que cruzavam no sentido oposto. Havia uma sensação de termos o paraíso exclusivamente para nós. De volta ao asfalto e bem próximos do objetivo, começou a surgir uma areia branca na pista, tão branca que de início pensamos tratar-se de neve. Intrigados com aquilo e ao mesmo tempo exaustos da jornada, não demos grande importância ao fato. Cruzamos uma barreira do Exército Chileno que nos olhou como alienígenas. Três estrangeiros em motos enormes e iguais, rumando para um lugar longe e inóspito.
Finalmente chegamos à cidade. Já na rua principal, imediatamente notamos a ausência total de pessoas na rua. Andamos mais um quarteirão e vimos casas e mais casas engolidas por cinzas. Finalmente chegamos ao Oceano Pacífico e a um posto de gasolina. Vimos então o primeiro habitante do lugar,o frentista. Loucos para entender o que estava acontecendo e por gasolina, perguntamos se havia algo que não sabíamos. Ele, não acreditando bem na situação, explicou calmamente: -Vocês não sabem do Vulcão? -Que vulcão?-Aquele! Olhamos rumo ao dedo que apontava para cima e então para aquilo: uma enorme montanha, soltando uma coluna de fumaça de cem metros de altura e uma base avermelhada, como que em chamas.
Sem saber ao certo como proceder e com pouca experiência em calamidades públicas, constatamos que a única via para fora daquele lugar era a que acabávamos de passar e pior: não havia eletricidade e, consequentemente, não havia gasolina no único posto do lugarejo. Passamos então ao passo dois: já que estamos aqui, vamos encontrar um lugar a salvo para ficar. Achamos então a única pousada que tinha sobrevivido ao incidente com os donos relutantes em abandonar o seu negócio e que quase não acreditaram quando dissemos que queríamos um quarto para passar a noite.
Passamos uma noite de terremotos leves e repetidos e muita apreensão. Pela manhã pegamos uma barcaça que estava buscando os teimosos e as equipes de resgate rumo a Puerto Montt, não sem uma certa dose de alívio mas tristes por conhecermos tão pouco deste lugar de natureza tão bruta e ao mesmo tempo tão belo.
Adicionar legenda |
Abraço.
NOSSA, QUE VIAGEM MARAVILHOSA, QUE PAISAGENS!!! DIGNAS DE UM BOM FOTÓGRAFO. PARABÉNS. ÓTIMO DOMINGO...
ResponderExcluirQue fotos! Que legal! Cara, você fotografa muito bem, as fotos estão lindas e o texto muito legal!
ResponderExcluir