terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Rincões do Brasil

(Encontrei este artigo escrito em 2001 para o jornal O Apito, do amigo Fredera.) 




       Aqui pelos rincões do Brasil a vida continua morna como sempre. O calor como fator desinibidor parece exercer sua força total nos trópicos e a felicidade flui independente das carências materiais e dos preconceitos.  
         Roraima é um estado diferente dos demais pelo isolamento geográfico frente ao resto do Brasil. Isso gerou uma identidade própria, influenciada fortemente por suas raízes indígenas e o forte fluxo migratório decorrente do "gold rush" da década de oitenta. O mesmo ouro que moveu os sonhos daqueles que aqui vieram buscar uma vida mais digna acabou se tornando uma tragédia para a população Yanomami que conviveu com os visitantes "nabë" ( brancos). 
    Para os Yanomami, as doenças que quase o dizimaram foram conseqüência das feridas provocadas na terra pelo garimpo pelo garimpo, incitando a Urihi, ou mãe terra, a reagir.

       






Região de Surucucu -RR
       Conta uma lenda Yanomami que os brancos são resultado de um namoro entre uma deusa ancestral e um índio desprovido de beleza que, por ciúmes, resolveu se passar pelo irmão pintando o corpo de urucum. Dessa relação surgiram os nabë, cuja tradução literal seria "não escolhido".
      Quando as doenças dos brancos surgiram no mundo Yanomami, os pajés locais usaram de todo o poder e conhecimento que tinham para eliminar a nova situação, sem sucesso. Este momento marcou profundamente a história dos Yanomami, quando tiveram que admitir que o poder de seus pajés não era páreo para aquele novo mal.
      Os rituais de cura dos Yanomami são de uma beleza indescritível e que tive o privilégio de poder acompanhar de perto por ser considerado por eles  nabë xabôre (pajé branco). Utilizando-se de uma mistura de dança e cânticos rítmicos como mantras repetidos infinitamente, eles buscam ajuda junto aos espíritos da selva para eliminar os males de seus irmãos. Nesse encontro de dois mundos, o transe parece mover-se  de um pajé para outro, sempre com gestos largos, "arrancando" a doença e jogando-a para longe. A eficácia do tratamento é incrivelmente grande, fato que a ciência moderna certamente julgaria como indução psicológica ou reconforto espiritual.    
      Eu, modestamente frente a esse mundo desconhecido que apenas começo a conhecer, diria que é apenas mais um dos muitos mistérios que envolvem esse povo tão isolado e belo.







 Missão Catrimani - RR











2 comentários:

  1. Ótimo texto e lindas fotos. Eu nunca fui a uma aldeia Yanomami. Deve ser mágico. Ah! A missão fica em RR também.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir