quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A era da vaidade virtual - O Facebook e o facebookcídio



Começo este pequeno artigo pelo fim: optei pelo Facebookcídio. Este suicídio virtual foi quase tão doloroso quanto imagino ser o real. Sofri a incompreensão de todos que diariamente encontrava na telinha. Houve gritos histéricos acusando-me de maluco, excêntrico e antissocial, chegando até aos extremos de sentenciarem que não teria mais amigos desta forma.

Sou de um tempo em que amigos eram gente de carne e osso. Nascido e crescido no interior de Minas Gerais, onde a interação era uma constante e o perigo inexistente, nunca precisei pensar muito sobre isso. A amizade ou a inimizade eram como o chão: simplesmente existia sem que tivéssemos que elaborar complicadas teorias acerca do tema. 

A praça era o ponto nevrálgico de todas as relações:  laços eram feitos e desfeitos, conspirações eram elaboradas e lá mesmo morriam, paqueras floresciam e sucumbiam, fatos viravam notícia e se espalhavam como pólvora no telefone sem fio das conversas. Havia os amigos e os amigos dos amigos, sem uma distinção muito clara entre os dois tipos. O grupo expandido englobava a todos, sem distinção, por meio de similaridades e empatias próprias do nosso micromundo.

Mas o tempo passa, o tempo voa e nem a poupança  Bamerindus continua numa boa. Aquele colega super legal cuja vida estava inevitavelmente atrelada à sua sumiu no mundo, inicialmente pra fazer faculdade e depois em definitivo. Passados anos, surge a dúvida de que a existência dele realmente é concreta ou é um daqueles truques da sua mente para entretê-lo nas horas de folga. O sólido vira vapor sem passar pelo estado líquido.

Depois do advento da internet houve a possibilidade do religare entre o passado e  o presente,  inicialmente através do Orkut e atualmente pelo Facebook. Aquele sujeito que sentava no fundo da sala na terceira série primária e cujo nome já estava guardado dentro do mais profundo recôndito do seu sistema nervoso subitamente se torna companheiro de vida, com  intimidade suficiente pra saber tudo sobre você, sua família e seus hábitos.

Passado o júbilo do reencontro, surgem as perguntas inevitáveis :  será amigo aquele que nunca lhe procurou em 30 anos, nem sequer pra saber se estava vivo? Será possível alguém ter dois mil amigos enquanto muitos se dariam por satisfeitos se tivessem dez? Será amigo/amiga todo mundo que você entrou em contato na vida? Seria positivo expor sua vida e suas opiniões ao crivo de tanta gente, muitos dos quais nem sequer lhe dão bom dia ao topar com você na rua?

O que mais me incomodava, porém, é o contato com o  exercício diário da vaidade e da auto-propaganda. Não importa mais o que você é e sim como aparenta ser. Vivemos a era do culto à vaidade. Pessoas sorridentes, postando fotos de viagens e comemorações sem fim são a máxima do novo mundo. O chamado selfie é o ponto culminante: o sujeito perde horas para conceber uma imagem com ele ao centro, geralmente para realçar os músculos, o iphone caríssimo e o auto-sucesso da aparição. O Facebook é a revista Caras dos pobres e não famosos.

Fui embora e não me arrependi. Não tive tremores ou convulsões, choques de identidade ou auto-afirmação. Perdi contatos virtuais pra ganhar contatos reais. O duro é que toda vez que conheço alguém vem sempre a famosa frase: -Vou te adicionar no facebook! Valei-me Deus até a próxima rede social. E que seja menos eterna que essa. 

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