segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A última fronteira

Presidente Figueiredo - AM

       Morar no interior da Amazônia é uma opção no mínimo excêntrica aos olhos do cidadão do sul. A pergunta que mais se ouve é: -tem mosquito? A resposta faz com que o interlocutor considere-o quase um extraterrestre. -Sim. Moscas, mosquitos, piúns, pela-éguas, vespas, abelhas, pernilongos e muito bicho que a minha vã ignorância entomológica não consegue classificar.
       Tenho um amigo que diz ter cansado de contar seus episódios de malária na trigésima quinta vez, mas depois disso teve mais umas quinze. Todos os métodos de prevenção não se aplicam a todos os casos, portanto a próxima picada é tão certa quanto o entardecer.
       Há também algumas vantagens em morar muito tempo na selva: pequenas coisas se tornam grandes e você passa a se deslumbrar com tudo. Lembro-me de dois exemplos: um piloto de helicóptero nos deu, em uma ocasião, uma goiabada cascão daquelas que quebram a faca pra cortar. Recebemos o presente quase que como o Santo Graal e comemos em frações tão pequenas que demorou  uma semana pra acabar. Outra situação foi quando conseguimos um violão, todo esmerilhado, para embalar os nossos sábados a noite sem eletricidade. Chegamos a dar pulos de alegria com a encomenda.
      Coisas que só o isolamento pode provocar.
      Abraço. E viva Santo Expedito, como diria o nobre Fredera.

São Gabriel da Cachoeira - AM

    

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